“Porto, Portugal”

Castramos os sentimentos,

Gastamos os conceitos cansados

De tão conceptualizados que são os Homens.

Erguem os seus escudos à teoria,

Lêem, traficam o conhecimento e caminham por caminhos traçados nos mapas, nos códigos.

Baralham-se com o vento,

Que tudo leva, tudo levou, tudo ficou,

Nada se elevou.

A gravidade tornou-se inerte,

Perdi o rumo estratégico.

Sou alérgico

À chuva que me molha, me acorda da solidão.

Subo ao telhado de joelhos esfolados,

Jeitos trocados

Em busca de uma vista.

Descentralizo-me da informação adjacente

Ao tornar da visão terrestre.

Flutuo num olhar aéreo, longe, mais.

Percorro os telhados cinzentos,

A tinta decadente numa cadência de casas antigas, sólidas,

Em cânone construídas,

E todas elas acordam com o pôr do sol que me invade as pupilas.

Sinto. O calor faz-me suar. Um cheiro que me agride com a vida.

O cheiro a veneno que está de saída pelos meus poros,

Que rapidamente é reposto neste copo de vinho branco,

Fresco, leve.

Que o álcool me Eleve. E leve.

Que diga que aqui estou,

A vomitar preconceitos, pósconceitos,

Intoxicada de mim,

Traumatizada de me sentir viva,

Acordada, exposta.

Que avise que estou encurralada numa beleza paradoxal,

Entre cinzentos ferrugentos e falhas de pintura,

Faltas e erros de arquitetura

Pintados de uma sublime latitude

De uma terra sem fim, imortal.

Porto, Portugal.