“Auschwitz\Birkenau”

Auschwitz\Birkenau

18.6.2018

Fiz a viagem quase toda calada. Já queria cá vir desde que ouvi falar do holocausto mais a fundo pela primeira vez numa aula de português no 7°ano. Desde que comecei a ouvir histórias, a ver documentários e os imensos filmes relativos à segunda guerra. Cada um mostra uma parte, a sua parte. Até que se cria este universo paralelo que explodiu há uns 70 anos atrás e acabamos por achar que já não vivemos nesse mundo. A crueldade humana chegara a um limite absurdo mas a partir daí era sempre a subir. Não voltamos a cair nos mesmos erros porque nos “lembramos”.

Não critico quem se sente seguro, eu também me senti.

Por ter pisado o mesmo chão que crianças, mulheres, homens, idosos inocentes que perderam a vida: uns lentamente na podridão das celas imundas, outros num ápice mortífero das câmaras de gás, outros que esperaram a sua sentença mais uns minutos, sem saber o que se seguia, aí percebi o quão próxima é esta realidade. Pessoas, tal como nós, prisioneiros e guardas, todos de mentes lavadas para um propósito que parecia o correto quando tudo o que os movia era o medo. Quando se deixa de questionar é quando morre a sociedade e todos os valores que ela nos impõe. Surge o líder, e somente o líder vive ali, os outros arrastam-se.

Neste “filme” que foi a visita guiada caí na mais crua realidade.

Percebi também a insensibilidade dos alemães na rapidez e eficácia de todo o processo de liquidação total.

Queriam matar mais depressa, da maneira mais barata e silenciosa possível. Cérebros de gestores da morte. Condenados.

O céu esteve cinzento durante todo o tempo. Choveu duas vezes. Parece que este céu está de luto pela a terra que viu sofrer, mesmo ali debaixo. Um mar de ódio, um mar de gente.

Apelo aos que visitaram Auschwitz, se realmente tocou alguma campainha aí dentro, e aos que não tiveram oportunidade que pensem nisto: condenamos vezes sem conta os alemães pela carnificina de uma minoria, os judeus, sem que estes tivessem alguma culpa ou maneira de se defenderem. Culpamos também os homens do passado que impediram as mulheres de votar ou de ter vida própria. Culpamos o passado vezes sem conta. É tão fácil apontar o dedo ao que já passou, estamos seguros, não nadamos contra a corrente. Mas eu pergunto agora, no presente que realmente importa: não continuamos nós a manter as minorias presas nestes campos de concentração? Homossexuais, transsexuais, refugiados… O que raio é que estamos a fazer parados? Temos pena que os judeus, coitadinhos, tenham sofrido tanto. Mas olhem para nós, sentadinhos no sofá da sala a olhar a TV e a mudar o canal das notícias do mundo, porque na verdade é isso a nossa prioridade: pôr tudo isso numa realidade alternativa que não nos afecte o dia a dia. Não existe, não aqui na minha casinha.

Tentem ir lá, na consciência, e sentir o que é necessitar realmente de apoio. Eles estão inocentes, e vocês? Estarão?